domingo, 29 de julho de 2012

Adeus Timor!


Este post foi escrito no dia 29/07/2012, mas não tive oportunidade de o postar mais cedo, aqui vai!


É sempre no fim quando mais queremos ficar. Hoje despeço-me de Timor, este país maravilhoso de pessoas apaixonantes. Despeço-me de 6 meses recheados de novas sensações, de novos olhares, de novos sorrisos que descobri em mim. Despeço-me de um país que me fez viver momentos de pura elucidação, momentos que me permitem hoje valorizar outros momentos de maneira tão diferente.
Despeço-me da experiência mais maravilhosa que vivi até hoje. Despeço-me do pôr-do-sol inconfundível, dos passeios de bicicleta e das corridas nesta magistral marginal. Das crianças e dos seus sorrisos que fizeram parte do meu dia-a-dia. Dos beijinhos e dos abraços da minha pequenina princesa Bakita. Dos alunos a quem tive o prazer de ensinar e partilhar o que me foi ensinado. Das galinhas e dos ratos da vizinha, dos porcos da rua, das baratas de casa. Do meu quarto. De 6 meses de banhos de água fria. Da cultura, da simpatia e da preguiça deste povo. Dos amigos que fiz aqui!
É com uma sensação estranha que abandono Timor, na esperança de um dia encontrá-lo mais crescido e mais capaz!


Hoje começa também a minha viagem pela Ásia! As fotos da viagem seguirão para o facebook e não para aqui. 
Dou por isso terminado este meu cantinho onde fui desabafando e tentando transmitir da melhor maneira as sensações que por cá vivi!

Obrigada a todos os que acompanharam e leram estes longos textos!

Muitos beijinhos, 
MM






domingo, 1 de julho de 2012

Descobrindo Timor

RAMELAU


Por volta das 6h da manhã rumávamos em direcção ao monte Ramelau (D), a montanha mais alta do antigo e extenso Portugal. É uma montanha sagrada e conhecida pelo maravilhoso nascer do sol visto do pico.
Com um carro alugado seguimos viagem com paragem em Aileu (B). Aileu possui mais um dos típicos mercados de Timor Leste onde as pessoas vendem os seus produtos com uma toalha estendida no chão; homens a fumar e mulheres a mastigar aquela substância estranhíssima que conforta o estômago, afasta doenças e deixa uma cor vermelha intensa nos lábios.




















Para almoçar, parámos na famosa pousada portuguesa de Maubissse(C), onde comemos algo semelhante a um bitoque.
Seguimos para Hatu Builico, a vila que preenche a base da montanha Ramelau. É uma vila muito fria, húmida, calma e mística, situada a 2000 metros de altitude.
Chegámos e ficámos numa guesthouse bem acolhedora. Esta vila tem muito poucos serviços, um quiosque que vende bolachas e algumas guesthouses. Se não fosse um ponto turístico nada tinha, como a maior parte das cidades de Timor.






Chegar a Hatu-Builico não é tarefa fácil. As estradas são inacreditavelmente esburacadas, com lama, pedras e com ravinas imensas e perigosas. Muitas vezes tivemos de sair do carro para tornar o carro mais leve para passar as zonas mais complicadas e perigosas.
Uma viagem aos saltinhos, assim como todas em Timor.
Jantámos na guesthouse e deitámo-nos bastante cedo para, no dia seguinte às 3h30 da manhã, iniciarmos o desafiante trekking. Para realizar este trekking é necessário um guia, pois a caminhada é feita em plena noite.
Às 4h da manhã o guia ainda não tinha chegado. Eu comecei a prever este trekking ainda mais árduo do que já o previa. Agora teria de o fazer em menos 30 minutos ao ritmo de 5 rapazes (equipa MOVE + guia).

Rapidamente, com a ajuda do lonely planet tínhamos um guia connosco. O guia tinha apenas 14 anos!
A subida durou cerca de 2h20. Para o guia esta foi uma relaxada e calma caminhada, um mero passeio pela montanha. Pois eu digo-vos que me custou bastante subir esta íngreme montanha, foi quase uma tortura, mas ao mesmo tempo uma vitória enorme ter chegado ao topo.
Aqui estavam cerca de 5ºC, um frio que quase me impediu de apreciar a paisagem.
Chegámos a tempo de ver o sol nascer e de ver este espectáculo que a natureza nos proporcionou. O céu estava bastante nublado, parecia uma cama de nuvens.
Não foi assim possível visionar a costa norte da Austrália.
Porque imagens valem mais do que mil palavras, aqui ficam algumas fotografias do nascer do sol.
Escusado será dizer que a descida, já sob a luz do dia, foi "peanuts"!

Era só o início...







 

JACO & SUL DE TIMOR


Com destino a Jaco, ilha paradisíaca e sagrada situada no extremo este da ilha, resolvemos tirar uns dias de férias, afinal esta foi a ultima viagem da equipa MOVE.
Por ser sagrada, não é permitido permanecer durante a noite nesta ilha, e por isso, Tutuala (o ponto mais próximo da Ilha de Jaco) é o local onde se dorme.
Saímos de Díli com destino a Baucau, onde iríamos passar a primeira noite.
Também aqui as estradas não são maravilhosas, no entanto, a estrada que liga Díli a Baucau é a melhor estrada de Timor. A razão pela qual esta estrada do norte é “melhor” deve-se ao facto de, no tempo da invasão Indonésia, estes precisarem desta estrada para deslocar as tropas eficientemente.
De Díli até Baucau fomos numa Biscota, nome que dá aos autocarros de Timor. Demorámos cerca de 6 horas para fazer cerca de 120 km. As biscotas, assim como as microletes (transporte público) são super originais. Cada pessoa decora-as como bem entender, imagens desde Avril Lavigne a Cristiano Ronaldo, a frases como “Jesus é o caminho” ou “Eu amo você“, elas existem e dão cor a este pais.
Por dentro são sujas, desconfortáveis, desorganizadas e é basicamente “tudo ao molho e fé em deus”. Atenção, tem a sua piada! Faz parte da aventura.
Chegados a Baucau, já de noite, ficámos hospedados num dormitório que pertence a umas freiras de Baucau. Pagámos 10 USD cada um.

Mercado de Baucau
Catupa, arroz envolto
em folhas de palmeira
O resto da viagem já seria impossível de fazer à boleia de uma biscota, e por isso, conseguimos que nos emprestassem um carro em Baucau. Obviamente que já estava tudo combinado antes de sairmos de Dlii.
Na manhã seguinte fomos buscar o carro que se encontrava com o volante bloqueado. Só 4 horas mais tarde é que se chegou à conclusão de que não havia arranjo e conseguiram-nos outro carro.
Começámos a viagem por volta das 14h e passadas 5 horas de viagem estavamos em Tutuala Beach. Para ir de Tutuala a Tutuala Beach existe uma descida em pedras e buracos. Uma pequena aventura estes 8 km de descida.
Camarão envolto em folhas de palmeira
Para almoçar parámos numa banca de uma família que vendia peixe e camarões. Em quase todo o caminho vai-se vendo bancas de madeira em frente a casas de família. Vendem refrigerantes, arroz, peixe e aquilo que o mar lhes oferecer.








    
     As famosas casas Sagradas de Timor


Já de noite, iluminados pelos faróis do jipe, montámos as tendas. Sem saco de cama e sem almofada, esperavam-me 2 noites difíceis.

O nosso JIPE

No dia seguinte, apanhámos o barco para Jaco com os pescadores de Tutuala. Como Jaco é uma ilha virgem, entenda-se que não tem qualquer tipo de acção humana, é costume os pescadores levarem o almoço à Ilha. Escolhemos o peixe logo de manhã e passadas umas horas estava pronto-a-servir.

Jaco vista de Tutuala Beach



A ilha é lindíssima, areia branca, água transparente e muita vida debaixo de água; um óptimo lugar para fazer snorkeling – muitos corais enormes e peixes grandes.
No clássico passeio pela praia, encontrámos burriés, espécie de caracol que, quando cozido em água e sal, fica um petisco daqueles! Apanhámos uns quantos e, como tínhamos visto uma panela na praia, achámos que era boa ideia cozê-los. Pegámos na panela e, com a ajuda dos pescadores fizemos uma fogueira. Ficaram deliciosos!!
O resto da tarde foi passada a jogar poker com burriés a servir de fichas. Haja imaginação!

A noite foi de convívio com mais duas portuguesas e um casal australiano.
Cerveja, peixe grelhado, rum e conversa fizeram a nossa noite.
Nesta noite jogava Portugal-Holanda, que não conseguimos ver porque apesar de existir uma TV no “parque” onde ficámos, esta não tinha o canal preciso.

Segunda de manhã partíamos para a descoberta do Sul de Timor. No mapa, vêem delineada uma estrada no sul, pois bem, viajar nesta estrada é só para quem quer. Esta estrada, quando chove fica intransitável. Quando não chove, idem.
De Jaco, com paragem em Los Palos para almoçar e com destino a Viqueque, são 180 km. Demorámos 10 horas a chegar a Viqueque, 10 horas de viagem!! Fazendo as contas, 18km/hora foi a média de velocidade.

Foram 10 horas no carro aos abanões, mas foram 10 horas “de Timor”: pessoas, costumes, paisagens e muita pobreza. 10 horas de acenos às pessoas, “botardi” e sorrisos.
O verdadeiro Timor está nestes locais, não em Díli! Está nestes distritos isolados e sem acesso a qualquer tipo de serviço.
Famílias que vivem no meio de nada, completamente isoladas. Vivem de nada também. Vivem para sobreviver.
Crianças e mais crianças em todo o lado. Campos de arroz e o mar do sul, um mar bem mais agitado e escuro. É aqui que dizem que os crocodilos andam.
Visto que esta é uma estrada pouco frequentada, este povo não está habituado a ver “malays”. Uns não sorriem e ficam muito espantados, outros esboçam um grande sorriso e acenam envergonhadamente; as crianças gritam “malay malay”.
Durante toda esta estrada vemos homens a caminhar com catanas e caçadeiras; mulheres a carregar na cabeça lenha, legumes e cachos de bananas; crianças a caminhar para a escola. Caminham quilómetros e quilómetros e pedem boleia a quem passa. Como o nosso Jipe tinha caixa aberta, demos boleia a muitos timorenses.
Nestas estradas encontramos uma variedade extensa de animais que por vezes passam a estrada nos momentos errados. Começo pelos cães, o animal mais presente nas ruas de Timor inteiro. Magros, com as costelas vincadas, feios e rafeiros, são todos assim, é triste de se ver. Juntam-se e ladram para quem passa.
Galinhas diria que são o segundo animal que mais se vê e que mais se aventuram na estrada. Seguem-se os porcos, porquinhos e porções. De todos os tamanhos e feitios. Em último, mas ainda assim em grande número nesta estrada, os búfalos, aqui chamados de “karau”.


O Mário, meu housemate que guiou o carro nesta longa viagem, conseguiu atropelar apenas 1 animal! Um pequeno cão que, no momento em que passávamos no meio de uma vila, decidiu atravessar a estrada. Já estávamos informados de que, quando isto acontece, e porque é bastante comum, o povo da vila pede dinheiro pelo animal, De maneira que parámos o carro (o pequeno e coitado cão já sem vida), e perguntámos quanto queriam pelo cão. Demos 10 dólares e continuámos viagem.
Chegámos a Viqueque, onde passámos a noite numa guesthouse. Esta cidade é conhecida pelos cães que nunca param de ladrar. Confirmou-se!

No dia seguinte acordámos bem cedo pois a nossa intenção era subir a montanha “ monte perdido”. É um monte conhecido pela enorme biodiversidade e pela extensa floresta que contém. O local onde se inicia o trekking não é de fácil localização, de maneira que nos perdemos. Perguntávamos a direcção para o monte mundo perdido e recebíamos como resposta a mais óbvia, exatamente para a montanha e não para o local de início de trekking. Às tantas encontrávamo-nos no meio de uma montanha, de nome “ mundo perdido”, completamente perdidos, já eram 9h da manhã ( o trekking começava às 8h)!
Como se não bastasse este atraso, o carro decide avariar. A temperatura do motor encontrava-se quase no máximo quando reparámos. Parámos o carro e abrimos o capot, a água já em efervescência e grandes explosões a lembrar pequenos gêiseres, saíram do depósito da água. O Hugo e o Pedro caminharam 1 hora até ao centro da vila “Ossu” para pedir ajuda. Em Ossu estava a decorrer a campanha da FRETILIN. Ossu estava, portanto, cheio de gente em festa. Membros da FRETILIN vieram ajudar-nos já prevenidos com um grande garrafão de água, que foi a solução para o problema.
Problema resolvido, já 11h da manhã. Mundo perdido já era.
Assistimos um pouco ao comício da fretilin e rapidamente seguimos viagem com destino a Baucau, mas com várias paragens pelo meio.

Campanha FRETILIN

Campanha FRETILIN

Carro da campanha FRETILIN

Bomba de Gasolina em Ossu ;)
Fizemos a primeira paragem para ver uma cascata. Encontrámos este lago lindíssimo!

Parámos em Venilale também para ver a hotspring que o lonely planet recomenda.

Também no caminho se encontravam umas caves ou grutas usadas pelos Indonésios durante a Invasão. Esta gruta tinha um porco a proteger a entrada. Queríamos entrar mas o porco protegia algo que estava lá dentro e ficava com um ar agressivo quando nos aproximávamos. A assistir a esta bonita cena estavam 2 putos timorenses que se riam e gozavam connosco, Diziam que não podíamos entrar porque estava algo lá dento que não consegui entender o que era.
Chegámos a Baucau por volta das 17h, hora que almoçámos, pois não existe qualquer tipo de comércio desde a saída de Viqueque.
Bolachas e bananas reconfortaram-nos o estômago até Baucau.
A ideia era apanhar a Biscota novamente até Díli por volta da 00h, a hora da próxima biscota. A contar com 6 horas de viagem, chegaríamos a Díli por volta das 6h, o que seria uma hora chata e uma viagem algo perigosa!
Decidimos ficar em Baucau, no mesmo lugar onde ficámos no inicio da viagem a pagar 10dolares. Percebemos que não tínhamos dinehiro para nada, apenas para a Biscota de volta e mais uns dólares que dariam para jantar. Conseguimos que as madres nos deixassem ficar sem pagar e, com uma gestão altamente eficiente, conseguimos chegar a Díli na manhã seguinte com 2 dólares para o táxi para casa!
Home sweet home! Viajar em Timor é desafiante. Começando pelas casas de banho, que na sua maioria apresentam um buraco no chão e um tanque com água e um balde, acabando na alimentação e nos bichos que existem nesta terra.
Já agora conto um episódio traumatizante para a minha pessoa. Em Viqueque, depois de jantar, estava eu preparada para ir tomar banho. Ora bem, na parede desta casa de banho estavam centenas de formigas a transportar e a comer uma grande mosca/barata. No tanque de água, um louva-a-deus enorme a fazer piscinas. Estou eu a apreciar este momento e a ganhar coragem para entrar na casa de banho quando me cai uma osga do teto à frente dos meus olhos.  Desisti rapidamente  e chamei um dos rapazes para me ajudar nesta tarefa de transformar o zoo numa casa de banho.

 












































Beijinhos para todos,
MM