sexta-feira, 25 de maio de 2012

Coisas várias.

Botardi!

A frequência dos meus posts diminuiu, mas a verdade é que a quantidade de trabalho aumenta e o tempo para estes pequenos devaneios diminui.
Estou agora de volta com alguns acontecimentos dos dias que passaram.

Na passada Quarta-Feira, dia 16, tivemos o prazer da visita de 2 jovens Portugueses. Qual a razão dessa visita? Essa é de morrer de inveja!
O Gonçalo, proveniente de uma pequena aldeia, de seu nome Carregal do Sal, em Viseu, decidiu um dia que iria dar uma conferência sobre o conceito Gap Year na Fundação Lapa do Lobo, fundação essa pertencente ao Dr.Carlos Torres.
Um dia o Gonçalo acordou com um telefonema deste mesmo senhor, perguntando-lhe se estaria interessado em fazer um Gap Year totalmente financiado, com a oportunidade de escolher os países que queria visitar.
O Gonçalo aceitou, escusado seria dizer, e pôde convidar um amigo, o Tiago.

Timor foi o 23º país que visitaram. Passo a enumerar a totalidade dos países: República Checa, Alemanha, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia, Estónia, Rússia, Ucrânia, Moldávia, Roménia, Bulgária, Turquia, Índia, Nepal, China, Laos, Cambodja, Tailândia, Malásia, Singapura, Indonésia, Timor, Austrália e Nova Zelândia.
Esta viagem ou o propósito do financiamento não é meramente turístico ou lúdico. Como os próprios dizem, eles interessam-se pelas diferentes realidades dos  distintos países, e, assim, transmitem-na para que mais pessoas tenham acesso à informação e às experiências por eles vividas. Eles querem incentivar mais pessoas a viajar, porque viajar é mais fácil e barato do que pensavam. (Eu partilho da mesma opinião!) A juntar a isto, o Gonçalo e o Tiago durante a viagem envolvem-se em projetos de voluntariado, como é o caso do MOVE, em Timor.
Estiveram cá a conhecer o trabalho que fazemos, assistiram às aulas que damos na Universidade , conheceram Dili e ainda houve tempo para um grandioso churrasco na casa MOVE.

O Churrasco já há tanto apalavrado.
Sexta-Feira foi então um dia agitado e animado.
A ideia de Churrasco ou BBQ parece sempre bem. Mas e o churrasco? E a grelha?
O nosso vizinho, um dos incontáveis que nos rodeiam, tinha uma espécie de churrasco, que eu arriscaria dizer que é ferrugem em forma de churrasco mas que, ainda assim, nos serviu muito bem. Compraram-se as grelhas, entrecosto, frango, chouriço, cervejas, batatas fritas, pão e mais cervejas. A mesa estava feita.




Montou-se o estaminé enquanto éramos atropelados pelas crianças que, como todos os dias, entram pela casa adentro como se donos da casa fossem. Como o churrasco aconteceu na parte exterior da casa, avisámos as crianças que por volta das 17h havia festa.
Qual é o nosso espanto quando as crianças vão aparecendo de banho tomado e com roupa de “missa”. A missa é a única ocasião em que o Timorense se veste a rigor, se arranja com cuidado, calça um sapato bonito, e põe perfume. Em situações normais, facto mais visível quando falamos de crianças, andam descalças, com roupa prática e muito suja.
Eis que Olívia aparece com uma vestido rosa de princesa; a Bakita com um vestido rosa mais discreto; a Avita desta vez penteada e com um vestido florido. Os meninos penteados com gel,  vestidos com um pólo, calça de ganga e sapato!


Estes miúdos vizinhos são pobres quando comparados com pobres em Portugal, claro. Mas, e falo com base no contacto permanente que tenho com eles nas redondezas de minha casa, eu diria que vivem bem, dentro do possível. Não passam fome, mas também não comem fartamente; têm roupas bonitas ainda que as usem raramente(compreensível, dadas as horas extensas de brincadeiras na terra, quando não lama).
Isto para explicar (ainda que pareça contradição), o violento e exagerado  ataque às primeiras batatas fritas que cuidadosamente e já na expetativa de que desaparecessem em poucos segundos, pusemos na mesa. A partir deste ataque às batatas, toda a comida que se punha na mesa tinha poucos segundos de exposição. Falo do frango no churrasco, do chouriço, da pasta de atum. Até que deslocámos a comida para dentro de casa, para que os convidados pudessem comer.
As crianças dançaram “ai se eu te pego” vezes sem conta, sempre como se fosse a primeira vez. Felizes da vida! 




Um episódio engraçado que não posso deixar de contar. As crianças sabem da existência de uma pessoa muito semelhante a mim, a Margarida. Sabem, porque lhes mostrei fotos e porque algumas até já falaram no skype com ela.
Durante o churrasco, caminhei até à Estrada principal do bairro para indicar a uma amiga a direção da casa. Entro no carro dela para depois seguir até minha casa. Saio do carro e vejo as crianças que, com um ar confuso, quase incrédulo, perguntam “Margarida???!!!” Não esperavam que voltasse no carro ou talvez nem me tenham visto a sair!

Findo o churrasco, depois de acabarmos com 5Kg de carne e cerca de 80 cervejas, a festa foi na GNR e durou até às tantas.

A semana que agora acaba foi de comemoração. Timor Leste fez 10 anos. Um dos países mais jovens deste mundo. Timor comemorou o 10º ano de independência.
Bandeiras de Timor Leste nos carros, nas motas, nas casas, nas lojas, nas barracas, nos quiosques, nos telhados. A bandeira Nacional de Timor Leste e o orgulho deste povo por todo o lado.
O Presidente Cavaco Silva visitou Timor Leste pela primeira vez. Mostrou-se surpreso com o estado de pobreza do país e apelou ao reforço do investimento português em Timor Leste.
Simpaticamente convidou a comunidade Portuguesa de Timor-Leste para uma festa ao estilo Português. Juntamente com  Cavaco veio a sua esposa e alguns ministros Portugueses, entre os quais, Paulo Portas que tive o prazer de cumprimentar.
Ouviram-se os Presidentes Cavaco e Matan Ruak. O novo presidente de Timor Leste, Taur Matan Ruak, declarou Português como língua oficial não materna leccionada como língua estrangeira, uma decisão feliz para Timor!
Cantou-se o fado pela voz de Kátia Guerreiro e comeu-se bacalhau com natas, rissóis, croquetes, pizza; bebeu-se vinho também (e que saudades que eu tinha de um bom vinho tinto!!).

Mudando de assunto.
Talvez vos esteja a dar uma novidade, mas aqui há “cabeleireiros” e “salões de beleza”. O conceito existe. Os malays frequentam e alguns timorenses ricos também.
Eu fui cortar o cabelo, por sinal bastante mais do que aquilo que eu queria!
Entrei no “salão”. Sala pequena com arrumos traseiros visíveis. Chão de tapete, do lado direito uma maca preta com uma almofada no sítio onde se coloca a cabeça. Uma bacia no chão e um balde. Champôs de supermercado. Do lado direito, 2 cadeiras com um espelho partido e enferrujado em frente. Nas paredes, algumas páginas de revistas coladas, com anúncios a produtos de beleza. Muitas referências hindus, oferendas na porta e dentro do salão.
Duas tailandesas, uma lava a cabeça a outra corta. Uma arranha a cabeça e a outra dá umas tesouradas.
Deitei-me na maca. Água fria (não esperava outra coisa) despejada de um balde para a cabeça. O balde enchia-se da bacia e de 2 em 2 viragens de água precisava de ir aos arrumos encher a bacia com água nova. Qual torneira.....lavou-me o cabelo e lavou a almofada também.
Sentei-me na cadeira para cortar as pontas...a verdade é que ela me cortou as pontas da maneira mais desengonçada que alguma vez vi. Em vez de 1 cm, foram uns 5...!
Tive pena de não ter levado máquina fotográfica mas hei-de lá voltar para registar.

Quanto ao trabalho, esse tem sido muito.
O Projeto UNTL- Projeto Liquiçá  de que já vos falei,  foi posto em prática. Temos uma turma de 7 alunos que, juntamente comigo e com o Francisco, trabalham para desenvolver a comunidade, mais especificamente otimizar a produção de kadiok (caranguejo), budu-tasi (algas) e agar-agas (doce de algas).
Os alunos são do curso de agronomia e agro-economia e são alunos muito interessados e bastante mais desenvolvidos intelectualmente do que os alunos que temos no nosso módulo de Gestão e Empreendedorismo. Isto deve-se ao facto de estes alunos terem sido escolhidos a dedo pelo responsável de departamento destes cursos.
Na próxima semana vai-se realizar um feira de produtos locais em Dili. O MOVE conseguiu um espaço na feira para as produtoras de doces de algas venderem!  Elas são 4, produzem apenas quando há feira em Liquiçá (talvez 1 vez por ano). Interessa dizer que estes doces são vendidos em supermercados, importados da Indonésia. Acontece com os doces, com os frangos do Brasil e com tantos outros produtos.
Achámos que esta seria uma boa oportunidade e queremos que, com isto, elas percebam que é fácil fazer dinheiro se houver trabalho. Porque se ser reactivo não chega, não reagir então, não é viável! É preciso proatividade que tanta falta faz a este povo….
Fomos com elas às compras e vamos emprestar o dinheiro necessário para que comprem os ingredientes necessários. Note-se que são apenas 15$, pois elas já possuem os equipamentos necessários. A verdade é que com este dinheiro conseguimos que elas começassem esta produção.
Estamos ansiosos pela feira, esperemos que corra tudo bem e que este acontecimento tenha sido uma pequena vitória nesta luta difícil que é despertar interesse pelo negócio, pelo trabalho, pela iniciativa, por uma vida melhor.

O Hugo e o Pedro, os 2 elementos do MOVE mais envolvidos na Cooperativa de Flores, estiveram esta semana em Los Palos a dar formação a Pescadores, no âmbito do conceito cooperativa, a pedido da Cooperativa de Flores.

Esta semana corrigi os testes dos alunos da UNTL. Agora entendo a desmotivação da minha querida mãe professora quando tem esta tarefa para fazer.
As aulas na UNTL têm seguido normalmente. Fizemos este teste a semana passada para ter algum feedback do nível de aprendizagem dos alunos e um inquérito para avaliar o nível de satisfação dos alunos em relação ao conteúdo das aulas, maneira como são lecionadas e idioma.
É muito difícil avaliar ou perceber se os alunos entendem a matéria. São raros os alunos que frequentaram todas as aulas desde o início, mesmo estes têm testes medíocres. Os que faltaram a algumas….imaginem!
O facto das aulas serem lecionadas em português vem dificultar bastante, porque a maioria dos alunos tem sérias dificuldades em expressar-se em português.
Já expliquei anteriormente que as aulas consistem no desenvolvimento de um plano de negócios de uma banca de fruta. A primeira parte do teste foi mais direcionada para conceitos e a segunda para o plano de negócios específico. Quando pergunto qual o produto de uma loja de telemóveis, muitos respondem fruta. É claramente um problema de interpretação.
Uma questão tinha dois grupos de imagens, um com um sumo e um caderno e outro com um táxi e um senhor que entrega correio. Pedia que escrevessem qual o grupo que correspondia ao conceito produto e qual o que correspondia ao conceito serviço. Metade escreveu o nome dos produtos e dos serviços que via na imagem.
Quanto à definição ou diferença entre produto e serviço, nenhum conseguiu explicar. Evidente que se o português deles fosse bom, não seria difícil perceber a diferença, mas a juntar à pouca capacidade intelectual, junta-se a dificuldade da língua…
Se falarmos em números, a situação complica-se. A literacia numérica não é de todo o forte do Timorense.
Fizemos um simples exercício: “O Mário trabalha 7 horas e a Mariana 7,5h. O Chico paga 10$/hora de trabalho. Qual é a despesa total do Chico?”. Cerca de metade respondeu bem, a outra metade errou, ou por não conseguirem raciocinar, ou simplesmente porque 14,5*10 = 1,45 ou 14,5. O multiplicar por 10 ou dividir por 10 também não é imediato, precisam de calculadora ou de “fazer à mão”.
Estes são alguns exemplos. É a realidade dos alunos finalistas da Universidade. Não quis ser destrutiva, é simplesmente a constatação de um facto. Facto este que espero que mude, pois é para isso que aqui estamos!

Esta semana fomos convidados para a cerimónia de entrega de diplomas aos estagiários (na área de manutenção dos ares condicionados) da GNR. O Mário e o Francisco foram representar o MOVE, que colabora com o ministério da Economia no projeto da Incubadora de empresas, para onde os estagiários irão.
O Ministro da Economia de Timor Leste agradeceu a colaboração do MOVE, que na realidade ainda não começou, mas estamos a trabalhar nesse sentido.

Estes foram alguns episódios da semana.

Amanhã às 6 horas da manhã estamos a ir em direção ao Ramelau, a montanha mais alta de Timor Leste, conhecida pelo espetacular nascer do sol. Um fim-de-semana diferente, longe da confusão de Dili!

Uma das atividades do jardim de infância MOVE, pintar!


Festa Africana no Arbiru. Haja...alegria?

Beijinhos a todos e bom fim-de-semana!
MM


quarta-feira, 2 de maio de 2012

O que nos MOVE.

Bom Dia!!

Sei que já não escrevo há um tempo.
Preguiça, falta de Internet e falta de tempo.
Estou de volta.

Desde que vim da viagem maravilhosa das férias da Páscoa, o trabalho tem sido algo contínuo e árduo, de maneira que é exatamente disso que vos vou falar.
O que é o MOVE? Que raio é que eu vim fazer para o fim do mundo?

O MOVE actua na erradicação da pobreza de forma sustentada, concedendo pequenos empréstimos a empreendedores para que estes possam construir um negócio e ter uma fonte de rendimento.
O MOVE, quando instalado num país, promove, espalhando flyers, a existência da ONG e abre inscrições para formações. Formação em gestão, empreendedorismo, criatividade ou outro tema que se ache apropriado para o contexto. Acabadas as formações, as pessoas apresentam o plano de negócios que desenvolveram. Os voluntários do MOVE avaliam estes pequenos negócios em “papel” e decidem se é um bom negócio para investir, concedendo, em caso afirmativo, um crédito que na média é de 500€. Crédito este que tem de ser pago em prestações, cuja taxa e valor dependem do acordo com o banco. Caso o projeto não seja viável, ajudamos os empreendedores a melhorarem o negócio, fazendo consultoria a esses mesmos planos de negócio.
Sucintamente isto é o que acontece nos países Africanos em que o MOVE se envolve. É o microcrédito a atividade principal, o que não impede que nos envolvamos noutros projetos de outra área, desde que o impato seja positivo.

A ideia de estender o MOVE para Timor concretizou-se em 2011. Vieram 2 voluntárias para o fim do mundo, avaliar a possibilidade do MOVE existir em Timor. Perceber se havia condições para tal, perceber quais as ONG’s que já actuam em Timor e de que maneira se iria combater a pobreza.

Eu faço parte da 2ª edição do MOVE em Timor-Leste. Faço parte de uma equipa de 5 pessoas, bem mais extensa que a inicial, que era composta por 2 meninas.  A fase de pesquisa e descoberta ainda não acabou, muito pelo contrário, ela vai durar sempre. Mas agora temos de fazer as coisas acontecerem!

Esta é a Newsletter do MOVE do mês de Março.
Foi a vez do meu testemunho.

Aqui, e porque Díli é uma cidade grande quando comprada com São Tomé e Príncipe e a Ilha de Moçambique, o modelo microcrédito utilizado e descrito acima não é viável. Dili tem cerca de 150 000 habitantes, o que representa cerca de 20% da população de Timor Leste. A identificação de potenciais empreendedores em Díli era algo que demoraria tempo a mais para o impacto que iria ter.
Seria viável nos distritos de Timor Leste, cujos acessos são extremamente difíceis e cuja inexistência de um carro, diga-se jipe, vêm impossibilitar a implementação do modelo. Ainda assim, se surgir a oportunidade de termos veículo próprio, se existirem as condições para viver no distrito e se o distrito tiver pessoas empreendedoras com vontade de trabalhar e com potencial, então não será uma hipótese a excluir.

Perante esta realidade, como vai ser feito o microcrédito em Timor?
Nos projetos que apoiamos, projetos que necessitam de apoio em gestão, tentamos identificar pessoas ou negócios que necessitem de microcrédito. 
De uma forma resumida, vou apenas falar dos 3 projetos que temos em ação, esquencedo os que tentámos iniciar e estão parados e esquecendo também todos os inúmeros contactos e reuniões em que já participámos com o intuito de poder actuar em projetos que se vieram a revelar sem interesse para o MOVE.

Timor é a terra das oportunidades. Falta tudo aqui! Faltam serviços e produtos.
Não faltam oportunidades, não faltam projetos e por isso temos de estar atentos e principalmente sermos muito críticos para não cairmos no erro de nos envolvermos num projeto sem sustentabilidade ou que esteja muito dependente de interesses de cargos superiores.
No início sentíamo-nos um pouco sem rumo à procura de oportunidades interessantes e a estudar a hipótese do microcrédito. Tudo isto ao mesmo tempo que nos ambientávamos a esta cultura e este clima de outro mundo.
Finalmente estamos a trabalhar com ritmo. Temos projetos, temos trabalho!

Em Timor-Leste trabalha-se devagar, sem pressa, sem compromisso, sem vontade. O calor não ajuda, o pouco espírito empreendedor das pessoas também não e, por isso, cria-se uma inércia gigante, e todas as condições para a produtividade ser baixa, quando não nula.
Nós, os MOVERS, queremos trabalhar, queremos que as coisas aconteçam, queremos proatividade. E paciência. Muita paciência.

Como já sabem, dou aulas na UNTL, Universidade Nacional de Timor-Leste, juntamente com o Mário e com o Chico. Temos 3 turmas e damos 2 horas por semana a cada turma.
Já vamos na 4ª aula, num total de cerca de 12 aulas, duração do nosso módulo de Gestão e Empreendedorismo. Estamos a ser muito práticos na forma como lecionamos, pois parece ser a forma mais fácil dos timorenses se interessarem, participarem e sobretudo entenderem a matéria.
As aulas são dadas em Português, facto que dificulta a aprendizagem, pois o Português destes alunos é muito básico. Falamos muito devagar e com palavras muito simples por vezes misturadas com Tétum (uma das duas línguas oficias de Timor Leste).
À medida que os vamos conhecendo melhor sentimos que eles se soltam mais, que ganhamos a confiança deles e por isso muitos perdem a vergonha de falar e fazer perguntas.
O formato das aulas é bem simples. Iniciámos com o tema “Como ter ideias”:” usar a criatividade, pesquisar, pensar nos recursos de Timor, identificar necessidades”, entre outras. Usando a lógica dos recursos de Timor Leste, chegámos à fruta. E pegando na fruta idealizámos 11 maneiras diferentes de vender fruta, chegando a uma final que nos parece ser a mais viável e rentável: banca de sumos de fruta na marginal de Dili. A partir daqui, as aulas que se seguem consistem no desenvolvimento do plano de negócios para este produto. Queremos que, no fim do módulo, os alunos consigam elaborar o raciocínio necessário para identificar pontos fortes e fracos e avaliar de forma mais ampla todos os aspetos relevantes, visto que lhes falta muita visão e muita sensibilidade na análise.
Tentamos lecionar da melhor forma, de forma óbvia e acompanhada de muitos exercícios práticos para os obrigar a pensar.
Queremos que os próprios alunos tenham ideias para um negócio e que tentem, com a nossa ajuda, desenvolver o plano do negócio. Temos 2 alunos que já tiveram ideias, um pouco aleatórias e sem qualquer tipo de análise à mistura. O Gilmar pensou em vender canja de galinha e caldo verde, ponto. Não pensou onde vender, como, nem em nenhum dos aspetos lecionados.
O Jacob pensou em bolos que utilizem fruta, mais uma vez sem qualquer contexto envolvente.
O Gilmar e o Jacob são dois exemplos de alunos dedicados e com alguma perspicácia, “para não dizer inteligência”. São 2 potenciais empreendedores cujo background conhecemos e cujo tempo passado com eles já nos permitiu avaliar e julgar como seria lidar com tal pessoa numa situação de microcrédito.
Aqui, nesta parceria com a UNTL, podemos identificar potenciais empreendedores para receber microcrédito, como expliquei em cima.

Tivemos finalmente uma turma que nos deixou muito satisfeitos. Participaram bastante e com qualidade suficiente para não nos deixar desanimados; entenderam a explicação e quase que nos convenceram a desistir da ideia de um possível tradutor.
Vamos continuar a avaliar esta opção e vamos, com o tempo, sabendo lidar melhor com eles, entendê-los e fazer-nos entender cada vez melhor.

Imaginem a Professora Mariana! Ia a passear na minha bicicleta quando um aluno, dentro de uma táxi, faz sinal com a mão e diz: “Botardi professora Mariana”. Professora Mariana?!

A parceria tripartida com a Direcção Nacional de Cooperativas, a Cooperativa de Flores e o Católica-MOVE foi finalmente assinada com direito a grande evento com banquete. Pena que não fui! Se soubesse que ia haver banquete teria ido.
O Hugo e o Pedro são os responsáveis por este projeto, o que não implica que os outros elementos do grupo não possam colaborar.
O objetivo desta parceria é que o MOVE fique responsável pela elaboração de um plano de reestruturação da Cooperativa de Flores, que, como já referi em posts anteriores, funciona muito mal. Não funciona como uma cooperativa. Nem vende flores.
A Cooperativa vende plantas, são raras as flores e há uma razão de ser. As flores de plástico são mais baratas e duram mais, por isso, são as plastificadas que eles compram. Aqui oferecem-se flores nos funerais, ou seja, o valor simbólico atribuído à flor não vem ajudar "à festa"!
A primeira fase, a decorrer no momento, corresponde à elaboração de questionários aos 63 membros da Cooperativa, de maneira a aprofundar toda a informação relevante relacionada com a produção e venda de flores/plantas: condições de produção, local, quantidade produzida e vendida, “estratégia” de preços, entre muitos outros aspetos.
O MOVE também já deu formação aos membros, formação para incentivar a mudança, passo fulcral para o sucesso desta parceria.
É um grande desafio! Esperamos que tenha sucesso e que os membros queiram continuar com o formato de Cooperativa, aceitando todas as consequências que daí advêm. Caso contrário a Cooperativa ficará sem membros e terão de ser pensadas outras soluções.
A possibilidade de conceder microcrédito entra neste projeto da seguinte maneira: imaginemos que um agricultor necessita de comprar determinados materiais para começar a plantar uma nova qualidade de flor; se este investimento inicial não estiver ao alcance desta pessoa, o MOVE entra aqui como elemento que fornece o capital necessário para que haja negócio.

A situação do Centro Juvenil está em standby (há 2 meses). Estamos à espera que se realize a reunião mensal para podermos dar o nosso contributo em relação ao mês de visitas que acompanhámos e que fui relatando aqui.

Eu e o Hugo estamos responsáveis pelo projeto da Timor Telecom, o modelo de retenção de talentos a ser elaborado no âmbito da liberalização do setor das telecomunicações.
Para concluir o projeto falta-nos apenas esperar pelos resultados da avaliação de desempenho e elaborar   o pacote de benefícios de uma forma mais rigorosa.

Temos outros projetos em vista, entre eles um que achamos muito interessante e com bastante potencial: criação de uma Incubadora de Empresas associada ao Centro de Formação de Tibar.
O Centro de Formação de Tibar já existe e dá formação a pessoas que se increvem, sob determinados requisitos: saber ler, escrever, ter conhecimentos básicos de numeracia e ter mais de 18 anos de idade.
Este centro dá formação em Construção Geral, Painel Solar, Águas Rurais e Saneamento, Agricultura e Hotelaria.
Tíbar é uma pequena aldeia a 30 minutos de Díli. O Centro de Formação tem instalações espetaculares. É um sitio muito calmo, muito verde e super agradável.
O papel do MOVE aqui é dar formação em gestão aos alunos que saem do Centro de Formação e querem entrar para a incubadora de empresas. Faríamos o plano de negócios dos projetos que surgem na Incubadora e funcionaríamos como uma equipa de gestão que acompanha os negócios até estes se tornarem autónomos e independentes da Incubadora.
Haveria sempre a possibilidade de conceder microcrédito a projetos que necessitem.
É um projeto não definitivo, pois não é certo que se disponibilizem todos os apoios/investidores necessários.

Fora de trabalho valem-me as minhas magníficas maratonas de bicicleta até à praia do Cristo Rei. Ir e vir demora cerca de 1h30, com paragem na bela praia do Cristo Rei para um mergulho.
Ipod, bicicleta, sozinha ou acompanhada aí vou eu, quase todos os finais de tarde até à praia. Pela marginal extensa, pela estrada rente ao mar, na companhia de uma paisagem ampla e “breathtaking”! Um autêntico pano de fundo preenchido por montanhas verdes, água imensa de um azul perfeito, céu de um azul mais claro e um cheiro característico acompanhado de uma brisa quente e um sol forte. No final do pano de fundo está o Cristo Rei, grandioso a preencher o cenário.
Na volta, um pôr-do-sol dos mais bonitos que tenho o prazer de ver com tanta frequência. O céu pinta-se de laranja, azul e vermelho, o sol já fraco mas ainda com uma cor muito forte reflete no mar, assim como as nuvens. Os mosquitos aparecem e fica a sensação de um clima ainda mais tropical com um lusco-fuco nos 30º!
Também tenho jogado muito volley. Grandes jogos dignos de profissionais de volley acontecem com muita frequência num campo de areia vedado na praia, que se destina a uma equipa de volley timorense mas que os malais, com toda a lata, saltam a rede cada vez que lá vão.

Reparem nos nomes do lado direito do quadro
Aqui em casa estamos sempre rodeados das mil crianças que nos invadem a casa. Já não batem à porta, entram como se a casa fosse deles. O simples facto de se deitarem no chão de mármore ou andarem a correr pela casa, ou escreverem no nosso whiteboard ou enfim...estar em casa dos vizinhos malais, por quem eles nutrem claramente um grande carinho, fá-los felizes.
A verdade é que os temos de expulsar algumas vezes, visto que trabalhamos muito em casa e não é de todo viável trabalhar no meio de 5 ou 6 crianças a brincarem.




Num fim-de-semana em que fomos à praia, decidimos levar a Bakita e a Olívia  connosco. Foi motivo de excitação enorme e ainda hoje falam disso com os amigos para lhes meter inveja.
O Pedro carregou a Olivia e eu a Bakita, na Bicicleta.
Chegaram à praia e despiram-se sem pudor, como crianças de 4 e 6 anos que são. Brincaram o tempo todo na água e devoraram um coco que lhes ofereci.







Eu, a Bakita e a Olivia

Queria deixar-vos um vídeo da animação que é quando chegamos a casa, no entanto desisti de fazer o upload depois de várias tentativas. Quem tiver curiosidade, vou fazer o upload no meu grupo no facebook! ;)

Resto de uma boa semana,
Beijinhos, MM