quarta-feira, 2 de maio de 2012

O que nos MOVE.

Bom Dia!!

Sei que já não escrevo há um tempo.
Preguiça, falta de Internet e falta de tempo.
Estou de volta.

Desde que vim da viagem maravilhosa das férias da Páscoa, o trabalho tem sido algo contínuo e árduo, de maneira que é exatamente disso que vos vou falar.
O que é o MOVE? Que raio é que eu vim fazer para o fim do mundo?

O MOVE actua na erradicação da pobreza de forma sustentada, concedendo pequenos empréstimos a empreendedores para que estes possam construir um negócio e ter uma fonte de rendimento.
O MOVE, quando instalado num país, promove, espalhando flyers, a existência da ONG e abre inscrições para formações. Formação em gestão, empreendedorismo, criatividade ou outro tema que se ache apropriado para o contexto. Acabadas as formações, as pessoas apresentam o plano de negócios que desenvolveram. Os voluntários do MOVE avaliam estes pequenos negócios em “papel” e decidem se é um bom negócio para investir, concedendo, em caso afirmativo, um crédito que na média é de 500€. Crédito este que tem de ser pago em prestações, cuja taxa e valor dependem do acordo com o banco. Caso o projeto não seja viável, ajudamos os empreendedores a melhorarem o negócio, fazendo consultoria a esses mesmos planos de negócio.
Sucintamente isto é o que acontece nos países Africanos em que o MOVE se envolve. É o microcrédito a atividade principal, o que não impede que nos envolvamos noutros projetos de outra área, desde que o impato seja positivo.

A ideia de estender o MOVE para Timor concretizou-se em 2011. Vieram 2 voluntárias para o fim do mundo, avaliar a possibilidade do MOVE existir em Timor. Perceber se havia condições para tal, perceber quais as ONG’s que já actuam em Timor e de que maneira se iria combater a pobreza.

Eu faço parte da 2ª edição do MOVE em Timor-Leste. Faço parte de uma equipa de 5 pessoas, bem mais extensa que a inicial, que era composta por 2 meninas.  A fase de pesquisa e descoberta ainda não acabou, muito pelo contrário, ela vai durar sempre. Mas agora temos de fazer as coisas acontecerem!

Esta é a Newsletter do MOVE do mês de Março.
Foi a vez do meu testemunho.

Aqui, e porque Díli é uma cidade grande quando comprada com São Tomé e Príncipe e a Ilha de Moçambique, o modelo microcrédito utilizado e descrito acima não é viável. Dili tem cerca de 150 000 habitantes, o que representa cerca de 20% da população de Timor Leste. A identificação de potenciais empreendedores em Díli era algo que demoraria tempo a mais para o impacto que iria ter.
Seria viável nos distritos de Timor Leste, cujos acessos são extremamente difíceis e cuja inexistência de um carro, diga-se jipe, vêm impossibilitar a implementação do modelo. Ainda assim, se surgir a oportunidade de termos veículo próprio, se existirem as condições para viver no distrito e se o distrito tiver pessoas empreendedoras com vontade de trabalhar e com potencial, então não será uma hipótese a excluir.

Perante esta realidade, como vai ser feito o microcrédito em Timor?
Nos projetos que apoiamos, projetos que necessitam de apoio em gestão, tentamos identificar pessoas ou negócios que necessitem de microcrédito. 
De uma forma resumida, vou apenas falar dos 3 projetos que temos em ação, esquencedo os que tentámos iniciar e estão parados e esquecendo também todos os inúmeros contactos e reuniões em que já participámos com o intuito de poder actuar em projetos que se vieram a revelar sem interesse para o MOVE.

Timor é a terra das oportunidades. Falta tudo aqui! Faltam serviços e produtos.
Não faltam oportunidades, não faltam projetos e por isso temos de estar atentos e principalmente sermos muito críticos para não cairmos no erro de nos envolvermos num projeto sem sustentabilidade ou que esteja muito dependente de interesses de cargos superiores.
No início sentíamo-nos um pouco sem rumo à procura de oportunidades interessantes e a estudar a hipótese do microcrédito. Tudo isto ao mesmo tempo que nos ambientávamos a esta cultura e este clima de outro mundo.
Finalmente estamos a trabalhar com ritmo. Temos projetos, temos trabalho!

Em Timor-Leste trabalha-se devagar, sem pressa, sem compromisso, sem vontade. O calor não ajuda, o pouco espírito empreendedor das pessoas também não e, por isso, cria-se uma inércia gigante, e todas as condições para a produtividade ser baixa, quando não nula.
Nós, os MOVERS, queremos trabalhar, queremos que as coisas aconteçam, queremos proatividade. E paciência. Muita paciência.

Como já sabem, dou aulas na UNTL, Universidade Nacional de Timor-Leste, juntamente com o Mário e com o Chico. Temos 3 turmas e damos 2 horas por semana a cada turma.
Já vamos na 4ª aula, num total de cerca de 12 aulas, duração do nosso módulo de Gestão e Empreendedorismo. Estamos a ser muito práticos na forma como lecionamos, pois parece ser a forma mais fácil dos timorenses se interessarem, participarem e sobretudo entenderem a matéria.
As aulas são dadas em Português, facto que dificulta a aprendizagem, pois o Português destes alunos é muito básico. Falamos muito devagar e com palavras muito simples por vezes misturadas com Tétum (uma das duas línguas oficias de Timor Leste).
À medida que os vamos conhecendo melhor sentimos que eles se soltam mais, que ganhamos a confiança deles e por isso muitos perdem a vergonha de falar e fazer perguntas.
O formato das aulas é bem simples. Iniciámos com o tema “Como ter ideias”:” usar a criatividade, pesquisar, pensar nos recursos de Timor, identificar necessidades”, entre outras. Usando a lógica dos recursos de Timor Leste, chegámos à fruta. E pegando na fruta idealizámos 11 maneiras diferentes de vender fruta, chegando a uma final que nos parece ser a mais viável e rentável: banca de sumos de fruta na marginal de Dili. A partir daqui, as aulas que se seguem consistem no desenvolvimento do plano de negócios para este produto. Queremos que, no fim do módulo, os alunos consigam elaborar o raciocínio necessário para identificar pontos fortes e fracos e avaliar de forma mais ampla todos os aspetos relevantes, visto que lhes falta muita visão e muita sensibilidade na análise.
Tentamos lecionar da melhor forma, de forma óbvia e acompanhada de muitos exercícios práticos para os obrigar a pensar.
Queremos que os próprios alunos tenham ideias para um negócio e que tentem, com a nossa ajuda, desenvolver o plano do negócio. Temos 2 alunos que já tiveram ideias, um pouco aleatórias e sem qualquer tipo de análise à mistura. O Gilmar pensou em vender canja de galinha e caldo verde, ponto. Não pensou onde vender, como, nem em nenhum dos aspetos lecionados.
O Jacob pensou em bolos que utilizem fruta, mais uma vez sem qualquer contexto envolvente.
O Gilmar e o Jacob são dois exemplos de alunos dedicados e com alguma perspicácia, “para não dizer inteligência”. São 2 potenciais empreendedores cujo background conhecemos e cujo tempo passado com eles já nos permitiu avaliar e julgar como seria lidar com tal pessoa numa situação de microcrédito.
Aqui, nesta parceria com a UNTL, podemos identificar potenciais empreendedores para receber microcrédito, como expliquei em cima.

Tivemos finalmente uma turma que nos deixou muito satisfeitos. Participaram bastante e com qualidade suficiente para não nos deixar desanimados; entenderam a explicação e quase que nos convenceram a desistir da ideia de um possível tradutor.
Vamos continuar a avaliar esta opção e vamos, com o tempo, sabendo lidar melhor com eles, entendê-los e fazer-nos entender cada vez melhor.

Imaginem a Professora Mariana! Ia a passear na minha bicicleta quando um aluno, dentro de uma táxi, faz sinal com a mão e diz: “Botardi professora Mariana”. Professora Mariana?!

A parceria tripartida com a Direcção Nacional de Cooperativas, a Cooperativa de Flores e o Católica-MOVE foi finalmente assinada com direito a grande evento com banquete. Pena que não fui! Se soubesse que ia haver banquete teria ido.
O Hugo e o Pedro são os responsáveis por este projeto, o que não implica que os outros elementos do grupo não possam colaborar.
O objetivo desta parceria é que o MOVE fique responsável pela elaboração de um plano de reestruturação da Cooperativa de Flores, que, como já referi em posts anteriores, funciona muito mal. Não funciona como uma cooperativa. Nem vende flores.
A Cooperativa vende plantas, são raras as flores e há uma razão de ser. As flores de plástico são mais baratas e duram mais, por isso, são as plastificadas que eles compram. Aqui oferecem-se flores nos funerais, ou seja, o valor simbólico atribuído à flor não vem ajudar "à festa"!
A primeira fase, a decorrer no momento, corresponde à elaboração de questionários aos 63 membros da Cooperativa, de maneira a aprofundar toda a informação relevante relacionada com a produção e venda de flores/plantas: condições de produção, local, quantidade produzida e vendida, “estratégia” de preços, entre muitos outros aspetos.
O MOVE também já deu formação aos membros, formação para incentivar a mudança, passo fulcral para o sucesso desta parceria.
É um grande desafio! Esperamos que tenha sucesso e que os membros queiram continuar com o formato de Cooperativa, aceitando todas as consequências que daí advêm. Caso contrário a Cooperativa ficará sem membros e terão de ser pensadas outras soluções.
A possibilidade de conceder microcrédito entra neste projeto da seguinte maneira: imaginemos que um agricultor necessita de comprar determinados materiais para começar a plantar uma nova qualidade de flor; se este investimento inicial não estiver ao alcance desta pessoa, o MOVE entra aqui como elemento que fornece o capital necessário para que haja negócio.

A situação do Centro Juvenil está em standby (há 2 meses). Estamos à espera que se realize a reunião mensal para podermos dar o nosso contributo em relação ao mês de visitas que acompanhámos e que fui relatando aqui.

Eu e o Hugo estamos responsáveis pelo projeto da Timor Telecom, o modelo de retenção de talentos a ser elaborado no âmbito da liberalização do setor das telecomunicações.
Para concluir o projeto falta-nos apenas esperar pelos resultados da avaliação de desempenho e elaborar   o pacote de benefícios de uma forma mais rigorosa.

Temos outros projetos em vista, entre eles um que achamos muito interessante e com bastante potencial: criação de uma Incubadora de Empresas associada ao Centro de Formação de Tibar.
O Centro de Formação de Tibar já existe e dá formação a pessoas que se increvem, sob determinados requisitos: saber ler, escrever, ter conhecimentos básicos de numeracia e ter mais de 18 anos de idade.
Este centro dá formação em Construção Geral, Painel Solar, Águas Rurais e Saneamento, Agricultura e Hotelaria.
Tíbar é uma pequena aldeia a 30 minutos de Díli. O Centro de Formação tem instalações espetaculares. É um sitio muito calmo, muito verde e super agradável.
O papel do MOVE aqui é dar formação em gestão aos alunos que saem do Centro de Formação e querem entrar para a incubadora de empresas. Faríamos o plano de negócios dos projetos que surgem na Incubadora e funcionaríamos como uma equipa de gestão que acompanha os negócios até estes se tornarem autónomos e independentes da Incubadora.
Haveria sempre a possibilidade de conceder microcrédito a projetos que necessitem.
É um projeto não definitivo, pois não é certo que se disponibilizem todos os apoios/investidores necessários.

Fora de trabalho valem-me as minhas magníficas maratonas de bicicleta até à praia do Cristo Rei. Ir e vir demora cerca de 1h30, com paragem na bela praia do Cristo Rei para um mergulho.
Ipod, bicicleta, sozinha ou acompanhada aí vou eu, quase todos os finais de tarde até à praia. Pela marginal extensa, pela estrada rente ao mar, na companhia de uma paisagem ampla e “breathtaking”! Um autêntico pano de fundo preenchido por montanhas verdes, água imensa de um azul perfeito, céu de um azul mais claro e um cheiro característico acompanhado de uma brisa quente e um sol forte. No final do pano de fundo está o Cristo Rei, grandioso a preencher o cenário.
Na volta, um pôr-do-sol dos mais bonitos que tenho o prazer de ver com tanta frequência. O céu pinta-se de laranja, azul e vermelho, o sol já fraco mas ainda com uma cor muito forte reflete no mar, assim como as nuvens. Os mosquitos aparecem e fica a sensação de um clima ainda mais tropical com um lusco-fuco nos 30º!
Também tenho jogado muito volley. Grandes jogos dignos de profissionais de volley acontecem com muita frequência num campo de areia vedado na praia, que se destina a uma equipa de volley timorense mas que os malais, com toda a lata, saltam a rede cada vez que lá vão.

Reparem nos nomes do lado direito do quadro
Aqui em casa estamos sempre rodeados das mil crianças que nos invadem a casa. Já não batem à porta, entram como se a casa fosse deles. O simples facto de se deitarem no chão de mármore ou andarem a correr pela casa, ou escreverem no nosso whiteboard ou enfim...estar em casa dos vizinhos malais, por quem eles nutrem claramente um grande carinho, fá-los felizes.
A verdade é que os temos de expulsar algumas vezes, visto que trabalhamos muito em casa e não é de todo viável trabalhar no meio de 5 ou 6 crianças a brincarem.




Num fim-de-semana em que fomos à praia, decidimos levar a Bakita e a Olívia  connosco. Foi motivo de excitação enorme e ainda hoje falam disso com os amigos para lhes meter inveja.
O Pedro carregou a Olivia e eu a Bakita, na Bicicleta.
Chegaram à praia e despiram-se sem pudor, como crianças de 4 e 6 anos que são. Brincaram o tempo todo na água e devoraram um coco que lhes ofereci.







Eu, a Bakita e a Olivia

Queria deixar-vos um vídeo da animação que é quando chegamos a casa, no entanto desisti de fazer o upload depois de várias tentativas. Quem tiver curiosidade, vou fazer o upload no meu grupo no facebook! ;)

Resto de uma boa semana,
Beijinhos, MM

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