Bom Dia!!
Sei que já não escrevo há
um tempo.
Preguiça, falta de
Internet e falta de tempo.
Estou de volta.
Desde que vim da viagem
maravilhosa das férias da Páscoa, o trabalho tem sido algo contínuo e árduo, de
maneira que é exatamente disso que vos vou falar.
O que é o MOVE? Que raio
é que eu vim fazer para o fim do mundo?
O MOVE actua na
erradicação da pobreza de forma sustentada, concedendo pequenos empréstimos a
empreendedores para que estes possam construir um negócio e ter uma fonte de
rendimento.
O MOVE, quando instalado
num país, promove, espalhando flyers,
a existência da ONG e abre inscrições para formações. Formação em gestão,
empreendedorismo, criatividade ou outro tema que se ache apropriado para o
contexto. Acabadas as formações, as pessoas apresentam o plano de negócios que
desenvolveram. Os voluntários do MOVE avaliam estes pequenos negócios em
“papel” e decidem se é um bom negócio para investir, concedendo, em caso
afirmativo, um crédito que na média é de 500€. Crédito este que tem de ser pago
em prestações, cuja taxa e valor dependem do acordo com o banco. Caso o
projeto não seja viável, ajudamos
os empreendedores a melhorarem o negócio, fazendo consultoria a esses mesmos
planos de negócio.
Sucintamente isto
é o que acontece nos países Africanos em que o MOVE se envolve. É o
microcrédito a atividade principal, o que não impede que nos envolvamos noutros
projetos de outra área, desde que o impato seja positivo.
A ideia de estender o
MOVE para Timor concretizou-se em 2011. Vieram 2 voluntárias para o fim do
mundo, avaliar a possibilidade do MOVE existir em Timor. Perceber se havia
condições para tal, perceber quais as ONG’s que já actuam em Timor e de que
maneira se iria combater a pobreza.
Eu faço parte da 2ª
edição do MOVE em Timor-Leste. Faço parte de uma equipa de 5 pessoas, bem mais
extensa que a inicial, que era composta por 2 meninas. A fase de pesquisa e descoberta ainda
não acabou, muito pelo contrário, ela vai durar sempre. Mas agora temos de fazer
as coisas acontecerem!
Aqui, e porque Díli é uma
cidade grande quando comprada com São Tomé e Príncipe e a Ilha de Moçambique, o
modelo microcrédito utilizado e descrito acima não é viável. Dili tem cerca de
150 000 habitantes, o que representa cerca de 20% da população de Timor Leste. A identificação de potenciais empreendedores em Díli era algo que demoraria
tempo a mais para o impacto que iria ter.
Seria viável nos
distritos de Timor Leste, cujos acessos são extremamente difíceis e cuja
inexistência de um carro, diga-se jipe, vêm impossibilitar a implementação do
modelo. Ainda assim, se surgir a oportunidade de termos veículo próprio, se
existirem as condições para viver no distrito e se o distrito tiver pessoas
empreendedoras com vontade de trabalhar e com potencial, então não será uma
hipótese a excluir.
Perante esta realidade, como vai ser feito
o microcrédito em Timor?
Nos projetos que
apoiamos, projetos que necessitam de apoio em gestão, tentamos identificar pessoas ou negócios que necessitem de
microcrédito.
De uma forma resumida,
vou apenas falar dos 3 projetos que temos em ação, esquencedo os que tentámos
iniciar e estão parados e esquecendo também todos os inúmeros contactos e
reuniões em que já participámos com o intuito de poder actuar em projetos que se
vieram a revelar sem interesse para o MOVE.
Não faltam oportunidades,
não faltam projetos e por isso temos de estar atentos e principalmente sermos
muito críticos para não cairmos no erro de nos envolvermos num projeto sem
sustentabilidade ou que esteja muito dependente de interesses de cargos
superiores.
No início sentíamo-nos um pouco sem rumo à
procura de oportunidades interessantes e a estudar a hipótese do microcrédito. Tudo isto ao mesmo tempo que nos ambientávamos a esta cultura e este clima de outro mundo.
Finalmente estamos a
trabalhar com ritmo. Temos projetos, temos trabalho!
Em Timor-Leste
trabalha-se devagar, sem pressa, sem compromisso, sem vontade. O calor não ajuda,
o pouco espírito empreendedor das pessoas também não e, por isso, cria-se uma
inércia gigante, e todas as condições para a produtividade ser baixa, quando não
nula.
Nós, os MOVERS, queremos
trabalhar, queremos que as coisas aconteçam, queremos proatividade.
E paciência. Muita paciência.
Como já sabem, dou aulas
na UNTL, Universidade Nacional de Timor-Leste, juntamente com o Mário e com o
Chico. Temos 3 turmas e damos 2 horas por semana a cada turma.
Já vamos na 4ª aula, num
total de cerca de 12 aulas, duração do nosso módulo de Gestão e
Empreendedorismo. Estamos a ser muito práticos na forma como lecionamos, pois parece
ser a forma mais fácil dos timorenses se interessarem, participarem e sobretudo
entenderem a matéria.
As aulas são dadas em
Português, facto que dificulta a aprendizagem, pois o Português destes alunos é
muito básico. Falamos muito devagar e com palavras muito simples por vezes
misturadas com Tétum (uma das duas línguas oficias de Timor Leste).
À medida que os vamos
conhecendo melhor sentimos que eles se soltam mais, que ganhamos a confiança
deles e por isso muitos perdem a vergonha de falar e fazer perguntas.
O formato das aulas é bem
simples. Iniciámos com o tema “Como ter ideias”:” usar a criatividade,
pesquisar, pensar nos recursos de Timor, identificar necessidades”, entre
outras. Usando a lógica dos recursos de Timor Leste, chegámos à fruta. E
pegando na fruta idealizámos 11 maneiras diferentes de vender fruta, chegando a
uma final que nos parece ser a mais viável e rentável: banca de sumos de fruta
na marginal de Dili. A partir daqui, as aulas que se seguem consistem no
desenvolvimento do plano de negócios para este produto. Queremos que, no fim do
módulo, os alunos consigam elaborar o raciocínio necessário para identificar
pontos fortes e fracos e avaliar de forma mais ampla todos os aspetos
relevantes, visto que lhes falta muita visão e muita sensibilidade na análise.
Tentamos lecionar da
melhor forma, de forma óbvia e acompanhada de muitos exercícios práticos para
os obrigar a pensar.
Queremos que os próprios
alunos tenham ideias para um negócio e que tentem, com a nossa ajuda,
desenvolver o plano do negócio. Temos 2 alunos que já tiveram ideias, um pouco
aleatórias e sem qualquer tipo de análise à mistura. O Gilmar pensou em vender
canja de galinha e caldo verde, ponto. Não pensou onde vender, como, nem em
nenhum dos aspetos lecionados.
O Jacob pensou em bolos
que utilizem fruta, mais uma vez sem qualquer contexto envolvente.
O Gilmar e o Jacob são
dois exemplos de alunos dedicados e com alguma perspicácia, “para não dizer
inteligência”. São 2 potenciais empreendedores cujo background conhecemos e
cujo tempo passado com eles já nos permitiu avaliar e julgar como seria lidar
com tal pessoa numa situação de microcrédito.
Aqui, nesta parceria com
a UNTL, podemos identificar potenciais empreendedores para receber microcrédito,
como expliquei em cima.
Tivemos finalmente uma
turma que nos deixou muito satisfeitos. Participaram bastante e com qualidade
suficiente para não nos deixar desanimados; entenderam a explicação e quase que
nos convenceram a desistir da ideia de um possível tradutor.
Vamos continuar a avaliar
esta opção e vamos, com o tempo, sabendo lidar melhor com eles, entendê-los e
fazer-nos entender cada vez melhor.
Imaginem a Professora
Mariana! Ia a passear na minha bicicleta quando um aluno, dentro de uma táxi, faz sinal com a mão e diz: “Botardi professora Mariana”. Professora Mariana?!
A parceria tripartida com
a Direcção Nacional de Cooperativas, a Cooperativa de Flores e o Católica-MOVE
foi finalmente assinada com direito a grande evento com banquete. Pena que não
fui! Se soubesse que ia haver banquete teria ido.
O Hugo e o Pedro são os
responsáveis por este projeto, o que não implica que os outros elementos do grupo
não possam colaborar.
O objetivo desta parceria
é que o MOVE fique responsável pela elaboração de um plano de
reestruturação da Cooperativa de
Flores, que, como já referi em posts anteriores, funciona muito mal. Não
funciona como uma cooperativa. Nem vende flores.
A Cooperativa vende plantas, são raras as flores e há uma razão de ser. As flores de plástico são mais baratas e duram mais, por isso, são as plastificadas que eles compram. Aqui oferecem-se flores nos funerais, ou seja, o valor simbólico atribuído à flor não vem ajudar "à festa"!
A Cooperativa vende plantas, são raras as flores e há uma razão de ser. As flores de plástico são mais baratas e duram mais, por isso, são as plastificadas que eles compram. Aqui oferecem-se flores nos funerais, ou seja, o valor simbólico atribuído à flor não vem ajudar "à festa"!
A primeira fase, a decorrer no
momento, corresponde à elaboração de questionários aos 63 membros da Cooperativa, de maneira a aprofundar toda a informação
relevante relacionada com a produção e venda de flores/plantas: condições de
produção, local, quantidade produzida e vendida, “estratégia” de preços, entre
muitos outros aspetos.
O MOVE também já deu formação aos membros, formação para incentivar a mudança, passo fulcral para o sucesso desta parceria.
É um grande desafio! Esperamos que tenha sucesso e que os membros queiram continuar com o formato de Cooperativa, aceitando todas as consequências que daí advêm. Caso contrário a Cooperativa ficará sem membros e terão de ser pensadas outras soluções.
A possibilidade de conceder microcrédito entra neste projeto da seguinte maneira: imaginemos que um agricultor necessita de comprar determinados materiais para começar a plantar uma nova qualidade de flor; se este investimento inicial não estiver ao alcance desta pessoa, o MOVE entra aqui como elemento que fornece o capital necessário para que haja negócio.
O MOVE também já deu formação aos membros, formação para incentivar a mudança, passo fulcral para o sucesso desta parceria.
É um grande desafio! Esperamos que tenha sucesso e que os membros queiram continuar com o formato de Cooperativa, aceitando todas as consequências que daí advêm. Caso contrário a Cooperativa ficará sem membros e terão de ser pensadas outras soluções.
A possibilidade de conceder microcrédito entra neste projeto da seguinte maneira: imaginemos que um agricultor necessita de comprar determinados materiais para começar a plantar uma nova qualidade de flor; se este investimento inicial não estiver ao alcance desta pessoa, o MOVE entra aqui como elemento que fornece o capital necessário para que haja negócio.
A situação do Centro
Juvenil está em standby (há 2 meses). Estamos à
espera que se realize a reunião mensal para podermos dar o nosso contributo em
relação ao mês de visitas que acompanhámos e que fui relatando aqui.
Eu e o Hugo estamos
responsáveis pelo projeto da Timor Telecom, o modelo de retenção de talentos a
ser elaborado no âmbito da liberalização do setor das telecomunicações.
Para concluir o projeto falta-nos
apenas esperar pelos resultados da avaliação de desempenho e elaborar o pacote de benefícios de uma forma mais rigorosa.
Temos outros projetos em
vista, entre eles um que achamos muito interessante e com bastante potencial:
criação de uma Incubadora de Empresas associada ao Centro de Formação de Tibar.
O Centro de Formação de
Tibar já existe e dá formação a pessoas que se increvem, sob determinados requisitos:
saber ler, escrever, ter conhecimentos básicos de numeracia e ter mais de 18
anos de idade.
Este centro dá formação em Construção Geral, Painel Solar, Águas Rurais e Saneamento, Agricultura e
Hotelaria.
Tíbar é uma pequena
aldeia a 30 minutos de Díli. O Centro de Formação tem instalações
espetaculares. É um sitio muito calmo, muito verde e super agradável.
O papel do MOVE aqui é dar
formação em gestão aos alunos que saem do Centro de Formação e querem entrar
para a incubadora de empresas. Faríamos o plano de negócios dos projetos que
surgem na Incubadora e funcionaríamos como uma equipa de gestão que acompanha
os negócios até estes se tornarem autónomos e independentes da Incubadora.
Haveria sempre a
possibilidade de conceder microcrédito a projetos que necessitem.
É um projeto não definitivo, pois não é certo que se disponibilizem todos os
apoios/investidores necessários.
Fora de trabalho valem-me
as minhas magníficas maratonas de bicicleta até à praia do Cristo Rei. Ir e vir
demora cerca de 1h30, com paragem na bela praia do Cristo Rei para um mergulho.
Ipod, bicicleta, sozinha
ou acompanhada aí vou eu, quase todos os finais de tarde até à praia. Pela
marginal extensa, pela estrada rente ao mar, na companhia de uma paisagem ampla
e “breathtaking”! Um autêntico pano de fundo preenchido por montanhas verdes,
água imensa de um azul perfeito, céu de um azul mais claro e um cheiro característico
acompanhado de uma brisa quente e um sol forte. No final do pano de fundo está o Cristo Rei, grandioso a preencher o cenário.
Na volta, um pôr-do-sol
dos mais bonitos que tenho o prazer de ver com tanta frequência. O céu pinta-se
de laranja, azul e vermelho, o sol já fraco mas ainda com uma cor muito forte
reflete no mar, assim como as nuvens. Os mosquitos aparecem e fica a sensação
de um clima ainda mais tropical com um lusco-fuco nos 30º!
Também tenho jogado muito
volley. Grandes jogos dignos de profissionais de volley acontecem com muita
frequência num campo de areia vedado na praia, que se destina a uma equipa de volley timorense
mas que os malais, com toda a lata, saltam a rede cada vez que lá vão.
Reparem nos nomes do lado direito do quadro |
Aqui em casa estamos
sempre rodeados das mil crianças que nos invadem a casa. Já não batem à porta,
entram como se a casa fosse deles. O simples facto de se deitarem no chão de
mármore ou andarem a correr pela casa, ou escreverem no nosso whiteboard ou enfim...estar em casa dos
vizinhos malais, por quem eles nutrem claramente um grande carinho, fá-los
felizes.
A verdade é que os temos de expulsar algumas vezes, visto que trabalhamos muito em casa e não é de todo viável trabalhar no meio de 5 ou 6 crianças a brincarem.
Num fim-de-semana em que fomos à praia, decidimos levar a Bakita e a Olívia connosco. Foi motivo de excitação enorme e ainda hoje falam disso com os amigos para lhes meter inveja.
O Pedro carregou a Olivia e eu a Bakita, na Bicicleta.
O Pedro carregou a Olivia e eu a Bakita, na Bicicleta.
Chegaram à praia e despiram-se sem pudor, como crianças de 4 e 6 anos que são. Brincaram o tempo todo na água e devoraram um coco que lhes ofereci.
Queria deixar-vos um vídeo da animação que é quando chegamos a casa, no entanto desisti de fazer o upload depois de várias tentativas. Quem tiver curiosidade, vou fazer o upload no meu grupo no facebook! ;)
Resto de uma boa semana,
Beijinhos, MM
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