Bazartete fica no cimo de
uma montanha. Pela primeira vez senti um frio natural, pois do A/C estou farta
de sentir. À medida que subíamos ficávamos cada vez mais perto das nuvens, é mesmo a
sério, as nuvens instalam-se num nível tão baixo que parece que tocamos nelas,
nós ficamos mesmo entre elas. É bem visível nesta imagem a proximidade destas nuvens/nevoeiro
à superfície.
Fomos visitar os empreendedores
com o Sr.António do Centro Juvenil. Visitar sem aviso prévio, caso
contrário muitos fugiriam, Sem avisar é quase certo que se encontram as
pessoas. O objectivo desta visita foi: receber prestações e, porque nós estávamos
lá, o objectivo foi também perceber qual o negócio que estava em questão e o
ponto de situação do mesmo.
Bazartete |
Foi dado crédito no valor
de 500 Dólares a um grupo de 9 empreendedores em 2010. 2 anos já vão. O
empréstimo seria para liquidar no prazo de 1 ano, mas como se o empreendedor
demorar 2 anos não tem de pagar mais, adiar é a melhor solução. Adiar,
adiar…até mesmo o CJ desistir do dinheiro e dá-lo como perdido. Só faz isto
quem não precisa dele. É assim que funciona o microcrédito em Timor. Num país
que precisa de motivação, de incentivos e de motivos para fazer melhor, as
instituições dão crédito aos “empreendedores” sem o esperarem de volta.
Assim, é justificável a
falta de produtividade, de visão, de ambição. A falta de verdadeiros
empreendedores.
A Roberta é uma
“empreendedora” que pertence ao grupo que mencionei. O objectivo da concessão
do crédito foi, inicialmente, começar o negócio de um quiosque. Um quiosque
aqui vende tabaco, refrigerantes, snacks, doces, etc. Pode ser numa barraca ou
num espaço fechado. Para haver negócio, é preciso saber negociar, saber gerir,
saber vender, enfim..saber contar. Não compliquemos.
Quiosque é igual a
falhanço. Isto, nas montanhas, pois em Dili há quem tenha sucesso. Como o
quiosque é um falhanço, nas montanhas as mulheres vendem pisangori (banana frita) às crianças da
escola, que compram cada fatia por 5 Centavos.
Quisoque |
Perguntei o que leva um
fatia de pisangori, para quantas fatias dá uma banana, quanto custa um cacho de
bananas, o óleo, o açúcar, a farinha...enfim, uma infinidade de perguntas para
conseguir perceber o porquê do dinheiro não existir. Contas feitas, mais tarde
em excel, concluo que a Roberta tem prejuízo por cada fatia que vende. Conclusão:
ou a Roberta me mentiu no preço dos produtos que compra, para conseguir
justificar a falta de dinheiro, ou então apercebeu-se da “balda” que é o
conceito microcrédito em Timor.
Ainda assim, voltaremos
brevemente a Bazartete para ajudar não só a Roberta como todos os outros
empreendedores que ficaram por visitar, porque o Sr. António estava com pressa
para almoçar.
Não é meu objetivo
criticar sem fundamento. Eu critico inocentemente, sem aprofundar. É a minha
opinião.
É claro que tudo provém
de uma questão inicial fundamental: ajudar. Mas não se está a ajudar da melhor
maneira. Tanto se quer ajudar, que se “desajuda”.
Algo que me tenho vindo a
aperceber em relação às pobres crianças Timorenses. Disse pobres. A carência
delas é só material, com material entenda-se carência de alimentação, vestuário,
alojamento, cuidados de saúde. Talvez seja por isto que é tão fácil conseguir
um sorriso de uma criança.
Num mês e poucos dias em
Timor não vi uma única criança, e acreditem que Timor tem muitas, a chorar ou a
preparar-se para um birra, o que seja. Vejo-as sempre felizes, seja a brincar
ao berlinde, seja a correr descalças na rua, seja sentadas num tronco deitado
de uma árvore, seja ao colo da mãe, seja a vender crocodilos de Madeira, bolas,
fruta, chapéus, pulsas..
Acontece com as crianças
mas acontece também com os Timorenses em geral. São felizes assim. Sim, esta é
a história do costume: “eles não têm nada e são muito felizes”. É facto, são
mesmo, não é “treta”! São felizes.
Da mesma maneira que me apercebi do
facto anterior ao me parecer ver um menino a chorar, apercebi-me também que os
bebés não usam fraldas! Claro! Mas estas são as questões básicas que só
pensamos nelas quando nos deparamos com alguma situação explicita. Desta vez, a
Roberta, sentada numa cadeira, tinha o filho no colo. Sem aviso, o filho faz
xixi não só pelas suas pernas abaixo como também pelas da mãe que,
descontraidamente e sem expressão abre as suas pernas para que o xixi
escorresse para o chão. Tudo volta à normalidade quando o filho acaba de fazer
xixi. Foi um momento de pura elucidação.
Filomena Claudina |
Filomena e netos |
Casa de Filomena |
Faz parte da cultura Timorense trazerem cadeiras para nos sentarmos ou dizerem para nos sentarmos num sofá assim que chegamos a casa de um. Podemos estar 1 minuto sentados, mas sentamo-nos para eles se sentirem respeitados.
Andar de Bicicleta tem
sido cada vez mais prazeroso. Já não “paníco”. O trânsito continua igual mas eu já me habituei a andar pelo
meio dos carros, motas, carrinhas e camiões; por baixo deste calor imenso e da
chuva que nos finta e nos molha sem aviso, e por entre esta pressão atmosférica
sempre no auge.
Casa de empreendedor que vendia animais e na visita não estava em casa, só a familia. |
Sexta-feira tivemos
conhecimento da existência de uma festa de música Portuguesa com jantar
incluído na GNR. Conseguimos convites, graças a um contacto na GNR, e lá fomos
nós todos pomposos para esta inesperada festa onde se encontrava o Presidente
da República, Ramos Horta, entre a elite Portuguesa e Timorense.
Há 1 mês a comer massa,
arroz e frango. Não queiram saber como me soube bem comer um bacalhau cozido
com batatas e broa, seguido de várias e deliciosas sobremesas, cuidadosamente
dispostas sobre as várias mesas existentes. A acompanhar o jantar ouvia-se fado
e outros géneros de música em Português. Soube bem experimentar, tão longe de
Portugal, sensações Portuguesas.
E como seria de esperar,
não fosse sexta-feira à noite, fui dar um pézinho de dança na única e
“espetacular” discoteca de Díli: “Casa Minha”. Fui com o Mário e novamente com
a Lor e as meninas da outra casa. Voltámos para casa de Táxi, transporte que
pensávamos inexistente àquelas horas e ainda ficámos com o contacto do taxista que
nos pareceu boa pessoa e trabalha todos os fins de semana à noite!
Sábado foi um dia no
mínimo entediante. Choveu o dia todo. Aqui quando chove, chove sem pudor. A
chuva cai em quantidades exorbitantes e com uma força inimaginável. Resultado:
não saímos de casa. Jogámos às cartas, mais uma etapa do nosso campeonato de
sueca Italiano em que eu ocupo, orgulhosamente, a última posição. Li. Vi séries.
Escrevi. Dormi.
Domingo foi manhã de
praia. Fomos de bicicleta, demora-se cerca de 30 minutos a chegar à praia do
Cristo Rei. São 30 minutos de paisagens admiráveis, dignas de postais. Atenção
porque são também 30 minutos de exercício físico! 30 para lá, 30 para cá.
Esteve uma manhã óptima
até que o tempo começou a ficar escuro e a chuva caiu repentinamente, como
sempre. Chegámos a casa encharcados. Sabe bem andar à chuva de bicicleta!
A equipa MOVE iniciou uma
operação que apelidamos de “operação vai tu”.
Consiste em ir até à praia do Cristo de Rei de bicicleta, parar por lá e
fazer uns abdominais e flexões, dar um mergulho e regressar a casa. Parece
bastante interessante até vos dizer as horas a que a operação “Vai tu” começa:
6h30/7h A.M. Eu preferia ao fim da tarde, mas nunca é certo que possamos, para
além de que normalmente chove ao fim da tarde e é a altura mais propícia para
os mosquitos atacarem.
Vou me mentalizar desta
operação e tentar aderir ainda esta semana. Ontem e hoje foram o Xico e o Mário. “Vai tu,
que eu já lá vou.”
Ontem, Segunda-Feira, tivemos uma reunião com o Padre Xico num café perto da Embaixada Portuguesa. O padre Xico é
Italiano, viveu 40 anos no Brasil e está há 8 cá. Imaginem o sotaque dele. Este
senhor vive em Ataúro, uma ilha perto de Díli, que é constituída
maioritariamente por pescadores. O Padre Xico colabora com várias comunidades,
é muito proactivo e é ele que vai escolher os 15 pescadores que vão assistir ao
workshop que vamos dar esta Quinta-Feira no CJ.
Mais um dia a começar,
Boa Semana para todos,
Beijinhos, MM
Mais um dia a começar,
Boa Semana para todos,
Beijinhos, MM
Foto tirada pelo Mário em Railaco |
Foto tirada pelo Mário em Railaco |
Sem comentários:
Enviar um comentário