terça-feira, 13 de março de 2012

Em Timor a distância não se mede em Kms, mede-se em horas. 2h10 é a distância Dili-Bazartete. Os Kms são 50.
Bazartete fica no cimo de uma montanha. Pela primeira vez senti um frio natural, pois do A/C estou farta de sentir. À medida que subíamos ficávamos cada vez mais perto das nuvens, é mesmo a sério, as nuvens instalam-se num nível tão baixo que parece que tocamos nelas, nós ficamos mesmo entre elas. É bem visível nesta imagem a proximidade destas nuvens/nevoeiro à superfície.



Fomos visitar os empreendedores com o Sr.António do Centro Juvenil. Visitar sem aviso prévio, caso contrário muitos fugiriam, Sem avisar é quase certo que se encontram as pessoas. O objectivo desta visita foi: receber prestações e, porque nós estávamos lá, o objectivo foi também perceber qual o negócio que estava em questão e o ponto de situação do mesmo.
Bazartete
Foi dado crédito no valor de 500 Dólares a um grupo de 9 empreendedores em 2010. 2 anos já vão. O empréstimo seria para liquidar no prazo de 1 ano, mas como se o empreendedor demorar 2 anos não tem de pagar mais, adiar é a melhor solução. Adiar, adiar…até mesmo o CJ desistir do dinheiro e dá-lo como perdido. Só faz isto quem não precisa dele. É assim que funciona o microcrédito em Timor. Num país que precisa de motivação, de incentivos e de motivos para fazer melhor, as instituições dão crédito aos “empreendedores” sem o esperarem de volta.
Assim, é justificável a falta de produtividade, de visão, de ambição. A falta de verdadeiros empreendedores.
A Roberta é uma “empreendedora” que pertence ao grupo que mencionei. O objectivo da concessão do crédito foi, inicialmente, começar o negócio de um quiosque. Um quiosque aqui vende tabaco, refrigerantes, snacks, doces, etc. Pode ser numa barraca ou num espaço fechado. Para haver negócio, é preciso saber negociar, saber gerir, saber vender, enfim..saber contar. Não compliquemos.
Quiosque é igual a falhanço. Isto, nas montanhas, pois em Dili há quem tenha sucesso. Como o quiosque é um falhanço, nas montanhas as mulheres vendem pisangori (banana frita) às crianças da escola, que compram cada fatia por 5 Centavos.
Quisoque
Voltando à Roberta, que não é excepção e também ela produz e vende pisangori. A Roberta diz que não tem dinheiro para pagar e pela vontade do Sr.António a visita acabava ali. Eu quis ir um bocado mais longe e perceber o porquê de ela não ter dinheiro. Perguntei que negócio tinha ela, ela diz que tinha o quiosque que fechou há uns meses(nem o Sr. António sabia). Assim, mudou-se para o negócio de produção de pisangori, que, se a família não tiver que comer ou se tiver chovido e a lenha estiver molhada, não há venda nem produção, respetivamente. Como atualmente estamos na época molhada, ela não produz. Eu, espantada, sugiro que ela guarde alguma lenha de reserva em casa, para não ter de parar a produção. Reação: “ “. Ficamos sempre sem perceber se entenderam. Um sorriso ou um sim são normalmente as respostas deles.

Perguntei o que leva um fatia de pisangori, para quantas fatias dá uma banana, quanto custa um cacho de bananas, o óleo, o açúcar, a farinha...enfim, uma infinidade de perguntas para conseguir perceber o porquê do dinheiro não existir. Contas feitas, mais tarde em excel, concluo que a Roberta tem prejuízo por cada fatia que vende. Conclusão: ou a Roberta me mentiu no preço dos produtos que compra, para conseguir justificar a falta de dinheiro, ou então apercebeu-se da “balda” que é o conceito microcrédito em Timor.
Ainda assim, voltaremos brevemente a Bazartete para ajudar não só a Roberta como todos os outros empreendedores que ficaram por visitar, porque o Sr. António estava com pressa para almoçar.
Não é meu objetivo criticar sem fundamento. Eu critico inocentemente, sem aprofundar. É a minha opinião.
É claro que tudo provém de uma questão inicial fundamental: ajudar. Mas não se está a ajudar da melhor maneira. Tanto se quer ajudar, que se “desajuda”. 

Algo que me tenho vindo a aperceber em relação às pobres crianças Timorenses. Disse pobres. A carência delas é só material, com material entenda-se carência de alimentação, vestuário, alojamento, cuidados de saúde. Talvez seja por isto que é tão fácil conseguir um sorriso de uma criança.
Num mês e poucos dias em Timor não vi uma única criança, e acreditem que Timor tem muitas, a chorar ou a preparar-se para um birra, o que seja. Vejo-as sempre felizes, seja a brincar ao berlinde, seja a correr descalças na rua, seja sentadas num tronco deitado de uma árvore, seja ao colo da mãe, seja a vender crocodilos de Madeira, bolas, fruta, chapéus, pulsas..
Acontece com as crianças mas acontece também com os Timorenses em geral. São felizes assim. Sim, esta é a história do costume: “eles não têm nada e são muito felizes”. É facto, são mesmo, não é “treta”! São felizes.
Da mesma maneira que me apercebi do facto anterior ao me parecer ver um menino a chorar, apercebi-me também que os bebés não usam fraldas! Claro! Mas estas são as questões básicas que só pensamos nelas quando nos deparamos com alguma situação explicita. Desta vez, a Roberta, sentada numa cadeira, tinha o filho no colo. Sem aviso, o filho faz xixi não só pelas suas pernas abaixo como também pelas da mãe que, descontraidamente e sem expressão abre as suas pernas para que o xixi escorresse para o chão. Tudo volta à normalidade quando o filho acaba de fazer xixi. Foi um momento de pura elucidação.

Filomena Claudina
Também durante esta semana visitámos Bidau Santana, uma “aldeia” situada aqui em Díli. O propósito da visita foi novamente recolher dinheiro. Desta vez conhecemos uma mulher, a Filomena Claudina, empreendedora no verdadeiro sentido da palavra: tem um quiosque, que funciona bem, e dá aulas de Português. A casa dela está em construção, ou melhor, por construir. Esta mulher teve 15 vezes grávida. Disse-nos que 2 filhos morreram e outros dois não chegaram a nascer. Pagou a prestação que era suposto pagar e como ficou com peso na consciência, disse ela, mal tiver a última prestação para pagar, assim o fará. 

Filomena e netos

Casa de Filomena
Faz parte da cultura Timorense trazerem cadeiras para nos sentarmos ou dizerem para nos sentarmos num sofá assim que chegamos a casa de um. Podemos estar 1 minuto sentados, mas sentamo-nos para eles se sentirem respeitados.

Andar de Bicicleta tem sido cada vez mais prazeroso. Já não “paníco”.  O trânsito continua igual mas eu já me habituei a andar pelo meio dos carros, motas, carrinhas e camiões; por baixo deste calor imenso e da chuva que nos finta e nos molha sem aviso, e por entre esta pressão atmosférica sempre no auge. 

Casa de empreendedor que vendia animais e na visita não estava em casa, só a familia.

Sexta-feira tivemos conhecimento da existência de uma festa de música Portuguesa com jantar incluído na GNR. Conseguimos convites, graças a um contacto na GNR, e lá fomos nós todos pomposos para esta inesperada festa onde se encontrava o Presidente da República, Ramos Horta, entre a elite Portuguesa e Timorense.
Há 1 mês a comer massa, arroz e frango. Não queiram saber como me soube bem comer um bacalhau cozido com batatas e broa, seguido de várias e deliciosas sobremesas, cuidadosamente dispostas sobre as várias mesas existentes. A acompanhar o jantar ouvia-se fado e outros géneros de música em Português. Soube bem experimentar, tão longe de Portugal, sensações Portuguesas.

E como seria de esperar, não fosse sexta-feira à noite, fui dar um pézinho de dança na única e “espetacular” discoteca de Díli: “Casa Minha”. Fui com o Mário e novamente com a Lor e as meninas da outra casa. Voltámos para casa de Táxi, transporte que pensávamos inexistente àquelas horas e ainda ficámos com o contacto do taxista que nos pareceu boa pessoa e trabalha todos os fins de semana à noite!

Sábado foi um dia no mínimo entediante. Choveu o dia todo. Aqui quando chove, chove sem pudor. A chuva cai em quantidades exorbitantes e com uma força inimaginável. Resultado: não saímos de casa. Jogámos às cartas, mais uma etapa do nosso campeonato de sueca Italiano em que eu ocupo, orgulhosamente, a última posição. Li. Vi séries. Escrevi. Dormi.

Domingo foi manhã de praia. Fomos de bicicleta, demora-se cerca de 30 minutos a chegar à praia do Cristo Rei. São 30 minutos de paisagens admiráveis, dignas de postais. Atenção porque são também 30 minutos de exercício físico! 30 para lá, 30 para cá.
Esteve uma manhã óptima até que o tempo começou a ficar escuro e a chuva caiu repentinamente, como sempre. Chegámos a casa encharcados. Sabe bem andar à chuva de bicicleta!

A equipa MOVE iniciou uma operação que apelidamos de “operação vai tu”.  Consiste em ir até à praia do Cristo de Rei de bicicleta, parar por lá e fazer uns abdominais e flexões, dar um mergulho e regressar a casa. Parece bastante interessante até vos dizer as horas a que a operação “Vai tu” começa: 6h30/7h A.M. Eu preferia ao fim da tarde, mas nunca é certo que possamos, para além de que normalmente chove ao fim da tarde e é a altura mais propícia para os mosquitos atacarem.
Vou me mentalizar desta operação e tentar aderir ainda esta semana. Ontem e hoje foram o Xico e o Mário. “Vai tu, que eu já lá vou.”

Ontem, Segunda-Feira, tivemos uma reunião com o Padre Xico num café perto da Embaixada Portuguesa. O padre Xico é Italiano, viveu 40 anos no Brasil e está há 8 cá. Imaginem o sotaque dele. Este senhor vive em Ataúro, uma ilha perto de Díli, que é constituída maioritariamente por pescadores. O Padre Xico colabora com várias comunidades, é muito proactivo e é ele que vai escolher os 15 pescadores que vão assistir ao workshop que vamos dar esta Quinta-Feira no CJ.


Mais um dia a começar,
Boa Semana para todos,
Beijinhos, MM





Foto tirada pelo Mário em Railaco
Foto tirada pelo Mário em Railaco

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