Disse no post anterior que infelizmente a semana
que passou ia ser uma semana de mudanças. Enganei-me redondamente. Foi sim uma
semana de mudanças, felizmente!!
A casa anterior era
realmente uma casa espetacular, penso que já a descrevi anteriormente: 2
andares, em cada andar uma cozinha e uma sala enorme, 3 quartos no R/C e 2 no
andar de cima, quartos grandes. Jardim enorme, varanda gigante, terraço com
chapéu de sol e cadeiras, segurança 24hrs, muros altos, 2 manas (empregadas),
gerador de eletricidade, máquina de lavar a roupa, grelhador, forno, água quente, e os luxos eram estes, sem
nada a acrescentar.
Casa MOVE Timor |
Ter uma mana aqui é bastante comum para os malai, não é muito caro e justifica bastante, visto termos o dia ocupado e na verdade uma boa limpeza faz a diferença quando falamos de bichos. Boa limpeza é coisa que a mana Nuni não faz, mas vai aprendendo devagar, a única velocidade que os Timorenses conhecem.
O Francisco e o Mário partilham um quarto; o Hugo e o Pedro outro e a menina cá de casa tem um quarto só para si! Cama de casal, e uma casa de banho um pouco diferente do que estamos habituados mas ainda assim melhor do que a da maioria dos Timorenses.
Não há forno. Não há água quente. Não há gerador. Não há máquina de lavar a roupa. Loiça idem.
Coisas básicas, aqui supérfluas.
Hall de Entrada/Garagem |
Sala de estar |
A bela da cozinha |
Cozinha+buraco no tecto |
Mangueira improvisada de maneira a não ter de tomar banho cada vez que lavo as mãos.
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Chuveiro+balde (auxiliar de banho, devido à falta de pressão do chuveiro) |
Para compensar isto tudo, que na verdade faz parte e eu acho que só assim é que faz sentido, estamos rodeados de pessoas aqui. A outra casa não nos permitia ter qualquer tipo de
contacto com os vizinhos, já esta é impossível não ter. E ainda bem.
Somos os únicos malais do bairro, todos nos cumprimentam sempre: Boa tardi
senyora! Ultimamente as crianças até dizem o meu nome!
Nas traseiras de nossa
casa, onde a cozinha está e tem uma porta, temos vizinhos e este é o cenário.
Foto das traseiras tirada da Cozinha |
Nos primeiros dias ficámos
um pouco surpreendidos com a facilidade com que nos entravam pessoas diferentes
em casa. A empregada é família dos numerosos vizinhos que temos e então as
crianças vinham agarradas à Nuni e passavam o dia em nossa casa. Entravam e
diziam boa tardi e por lá ficavam um bocado até se irem embora e voltarem
mais tarde. Agora acalmou e a Bakita é a única persistente. A Bakita é uma
menina muito gira que vive nas traseiras desta casa e passa os dias aqui. Falar
com ela é impossível, não só porque não falamos a mesma língua mas também
porque ela não fala muito.
Durante o dia a porta da
cozinha fica aberta, a Nuni está cá e os vizinhos são de confiança. Uma ida à cozinha significa um Boa tardi ao vizinho ou mais um esforço em vão para
aprender tétum. Em vão pois já foram várias as vezes em que fui ter com a Nuni,
durante as várias horas que ela passa sentada no degrau da cozinha, para
treinar o meu tétum, mas de facto é impossível. Ela não fala Português, eu falo
tanto Tétum como ela Português. Comunicar: missão impossível! Já pensámos em
fazer uns desenhos com as tarefas diárias que ela deve fazer, coisas tão
simples como: levar o lixo, varrer o chão e não apenas o espaço do chão à
vista. Mesmo que tentemos falar tétum ela não nos entende.
Nos primeiros dias sem
carro percebemos que tínhamos de comprar uma bicicleta, caso contrario íamos
gastar muito dinheiro em táxis e Díli é grande o suficiente e faz calor mais do
que suficiente para o táxi ser uma alternativa.
Ontem foi dia de comprar
as bicicletas. Esta ideia sempre me “assustou” um bocado, o trânsito é caótico,
muitas motas, não há regras de ultrapassagem e é raro o semáforo. Se me
assustava antes de andar de bicicleta não queiram imaginar agora! Ontem foi só o
primeiro dia em que andámos por Díli de bike e já senti algum pânico. Talvez
esteja a exagerar um bocado. Isto para os meninos é “peanuts”, andam a 100km/h
e deixam-me para trás como se não lá estivesse!! Algum treino e acho que
brevemente começará a ser um prazer em vez de um pânico constante!
Esta Sexta-Feira não fomos sair, eu também
estava a sofrer um bocado as consequências intestinais de estar num pais
destes. E por isso Sábado acordei cedo para poder “skypar” com a mana
Margarida, coisa que não aconteceu pois acordei “às escuras”. Estive em casa
sem eletricidade durante cerca de 3 horas. Os meninos tinham ido ver o Benfica
perder à casa antiga, que tem TV e gerador.
Aproveitei para esgotar a bateria do PC e
ver séries e “falar” um bocado com a Nuni e com os vizinhos.
À tarde fomos à praia da areia branca.
Alguém nomeou esta praia como “o Algarve de Dili”, é para onde os estrangeiros
como nós vão e há cafézinhos que levam água de coco e todo um menu extenso à
mesa. É também o sítio priviligiado de Dili para ver o pôr-do-sol.
No final da noite fui de mota com o Hayden
para casa! BRUTAL andar de mota aqui, sente-se o vento quente e vê-se a vida
Timorense como se fosse um filme. Já estava o sol a nascer . Passámos pelo
Mercado de Taibéssi, o maior Mercado de Dili e os vendedores já montavam as bancas, e olhavam para os 2
malais que aquelas horas estranhas passavam por ali.
No dia seguinte, no chamado dia de ressaca,
adivinhem só onde fui parar. Luta de galos! Comecei bem o dia a ver galos à
luta num quase ringue de box, com centenas de pessoas à volta a fazer apostas.
É comum fazer-se aqui este tipo de crueldades, não sou a favor mas não pude
perder o espetáculo que por acaso, acontece todos os dias. As galinhas lutam
com uma lamina nos pés e então vemos algumas a ficarem sem patas, outras a
escorrer sangue de qualquer sitio onde tenham levado uma “patada”.. é um bocado
chocante, não só por ser novidade como também por todo o culto a uma tradição
que vai contra o direito destes animais.
Neste “espetáculo” eram só homens e eu.
Quando cheguei perguntei-me e perguntei se era permitido eu lá estar, uns
disseram que não, outros que sim..no fim entendi que podia ficar por ser malai.
Não me senti muito confortável mas tinha dois guarda-costas a protegerem-me de
qualquer incidente que pudesse acontecer, o Mário e o Xico.
Deixo-vos um video de uma luta:
Passando a outro tema, qual é o nosso espanto quando o Francisco este fim-de-semana recebe uma mensagem do "Embaixador" a convidar para um pequeno-almoço na sua residência. Claro que achámos que era mentira, pensámos que seria alguém a meter-se connosco, pois qual seria a probabilidade de sermos convidados pelo Sr.Embaixador para um pequeno-almoço. Pois bem, combinámos hoje pelas 8h na residência e afinal sempre era verdade! O Embaixador queria conhecer o projeto MOVE, conhecer a equipa e para além disso ainda se mostrou muito disponível para ajudar, fornecendo-nos contactos que vãos ser muito úteis para o sucesso do nosso trabalho. Alguma formalidade e um pequeno-almoço com muita fruta e várias manas a servirem.
Como voluntários que somos, pedimos boleia para casa depois do pequeno-almoço. Conseguem ter mais ou menos ideia do cenário. O cenário era o seguinte: carrinha de caixa aberta, nós vestidos com roupa formal e porque os Timorenses não estão habituados a ver malais "nestas condições", alguns olhos postos sobre nós! No final demos 1 Dólar ao senhor da carrinha e ele ficou todo contente.
E parece que vem aí uma semana cheia de trabalho!
Beijinhos para todos,
MM
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